Alexandre Spatuzza
Editor Revista Sustentabilidade
Em meio ao forte debate sobre Belo Monte e sua implicações para as políticas de energia nacionais, a Cemig anunciou a construção de uma usina solar fotovoltaica de 3MW que vai custar entre 20 a 30 milhões de reais para construir, com a possibilidade de gerar a energia, abaixo de R$300 por MWh.
Estes números são de extrema importância, pois insere de vez um viés mercadológico em um projeto piloto, tido pela maior parte da sociedade brasileira como experimental. Não estamos falando de R$ 500/Mwh, nem de R$100/MWh e nem de R$77/MWh, o custo da energia de Belo Monte. Estamos falando de um preço abaixo de R$300/MWh, cerca de US$180/MWh.
Para alguns, este é um preço alto que comprova a inviabilidade da energia solar como fonte importante, pois o nosso sistema energético é calcado nos menores preços e maiores estabilidade de fornecimento. Para outros, o preço indica a viabilidade da solar.
Na verdade, é importante conhecer o projeto como um todo e como ele se insere nas tendências do setor. Se de um lado, os avanços tecnológicos e ganhos de escala no mundo têm reduzido os custos dos equipamentos solares em até 40% ao ano, do outro a Cemig, a sua parceira espanhola, Solaria, e as universidades mineiras vão também investir em pesquisa para melhorar a eficiência, os custos e inserção da energia solar na rede brasileira.
Minas Gerais não está sozinha. No nordeste, a MPX, do Eike Batista, já tem uma usina de !MW que gerará conhecimento. No sul, a Eletrosul está investindo pesado em solar. No norte, a Eletrobrás lançou um centro de pesquisas solar. E em todo país, universidades pesquisam esta tecnologia que pode não só se beneficiar de anos de experiência em locais isolados da rede elétrica no Brasil, mas também de esforço para melhorar a qualidade do silício, material que o Brasil exporta.
Portanto, se estamos falando em R$300/MWh em 2012. Em 2013, este preço pode ser significativamente menor, talvez abaixo de R$180/Mwh. Em 2014, quem sabe, próximo de R$130/MWh. A este nível, é possível competir com fontes térmicas e, como mostra o setor eólico, o preço continuará caindo à medida que os contratos são conquistados, escala e um financiamento adequado do BNDES, e poderá se aproximar da hídrica em cinco anos, com uma composição importante da tecnologia nacional.
Estou sendo otimista? Um pouco, mas basta olhar as tendências do mercado internacional, para ver que é uma expectativa realista se as peças se encaixarem
É importante no entanto, colocar em perspectiva a questão solar. Para arriscar um trocadilho infame, nem tanto ao 'sol' e nem tanto à terra. A inserção da energia solar na nossa matriz, 70% hídrica e não poluente, vai ser paulatina. Diferentemente dos países da Europa, que têm urgência na redução de emissões, o Brasil tem um pouco menos urgência, como discutimos no nosso especial de energia, o que pode atrapalhar. (http://issuu.com/cleantechbr/docs/energi_eficiencia_e_renovaveis ).
Por enquanto, como necessitamos de muita energia barata na nossa fase de crescimento – para não afugentar investimentos e garantir acesso da população mais carente – a solar por enquanto vai ser complementar. Mas temos que discutir com detalhes não só a sua produção fotovoltaica em grande escala, mas também a microgeração distribuída e, é claro, a geração solar por concentração, na qual o Brasil tem um alto potencial (citados por uns em 16GW de capacidade instalada potencial). Diz-se que a solar de concentração já sai a R$180/MWh.
Mas para chegarmos lá precisamos de duas coisas básicas: conhecimento e planejamento. E saber, principalmente, que os R$300/MWh de hoje poderão ser R$130/MWh amanhã, enquanto os R$100/MWh da energia hidrelétrica de hoje poderão ser R$180/MWh amanhã por causa das restrições ambientais.