quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Emergentes têm papel importante no desenvolvimento sustentável, diz secretário

BRUNO MARFINATI - REUTERS
Os países emergentes têm um papel importante na trajetória rumo ao desenvolvimento sustentável, embora o exemplo devesse partir dos mais ricos, que têm mais recursos econômicos e tecnológicos, disse uma autoridade do governo brasileiro.

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, termina nesta sexta-feira com um texto final "possível", sem audácia, nem compromissos concretos, mas com uma marca da vitalidade da sociedade civil, na opinião do secretário de Políticas e Programas do Ministério de Ciência e Tecnologia, Carlos Nobre.

"Os países desenvolvidos, inclusive por terem muito mais condições econômicas e tecnológicas, deviam dar o exemplo, ser os primeiros, o que se esperava há 20 anos", afirmou ele à Reuters, referindo-se ao período desde a Rio92, considerada um marco nas discussões sobre meio ambiente.

Para o secretário, as economias emergentes têm um papel fundamental. Países como Brasil, China e Índia precisam mostrar o caminho, aproveitando a rápida transformação pela qual passam suas economias.

De acordo com ele, com populações que estão mudando de patamar de crescimento e a inclusão, direcionar o crescimento social e econômico para a sustentabilidade não é tão complexo nesses países, que estão se tornando potências econômicas.

"É mais fácil o convencimento da sociedade desses países a trilhar um caminho de sustentabilidade do que os 20 anos de inércia em muitas economias desenvolvidas", afirmou.

O texto proposto pelo Brasil como documento da Rio+20 não agradou ONGs e ambientalistas, que alegaram que nenhuma de suas recomendações foi incluída na versão final do documento.

Para Nobre, no entanto, com participação marcante nesta conferência, a sociedade deixou uma mensagem clara: "Ela quer rapidamente se engajar numa trajetória de desenvolvimento sustentável".

"A Rio+20 mostra que a sociedade global não quer mais a volta, nenhum retrocesso, e ela coloca uma pressão muito grande no mundo político, e em sociedades democráticas a decisão política tem que acompanhar a vontade da sociedade."

Esse avanço não pode depender apenas dos recursos financeiros, atualmente limitados por conta da crise nos Estados Unidos e na Europa, mas também da capacitação, da educação e do compartilhamento de tecnologias, avaliou.

O pesquisador e ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) reconheceu que "falta um desejo muito maior de quem pode ajudar. A ciência já chegou lá. Soluções tecnológicas existem", afirmou

"Ao documento final falta audácia, falta compromissos mais concretos. Foi o possível dentro do sistema multilateral da ONU e ele (documento) coloca uma pressão cada vez maior nos governos.... É difícil imaginar um grande acordo em que toda essa equação complexa seja resolvida."

DESAFIO GLOBAL

Embora tenham um papel importante nessa transição para um mundo sustentável, Nobre lembrou que algumas economias mais robustas também precisam alterar a sua rota de desenvolvimento. Trata-se, portanto, de "um desafio global que ninguém pode ficar de fora."

Com o término da conferência nesta sexta-feira, caberá aos países "utilizar a Rio+20 como um grande catalizador de princípios de desenvolvimento sustentável e procurar implementar fortemente na sua agenda nacional esses princípios. O Brasil está na vanguarda ... e que possa servir de exemplo ao mundo", concluiu.