terça-feira, 16 de agosto de 2011

O dia em que o Google engoliu a Motorola

Nesta segunda-feira o Google anunciou em seu blog corporativo que está comprando a fabricante de aparelhos telefônicos móveis Motorola Mobility, segmento de smartphones, tablets e acessórios da empresa, pelo preço de US$ 12,5 bilhões em dinheiro. O valor é o equivalente a US$ 40 por ação, um ágio de 63% sobre o preço de fechamento dos papéis da companhia na última sexta-feira, 12 de agosto. Segundo a Motorola, a transação foi aprovada por unanimidade pelos conselhos de administração das duas empresas e deve ampliar a concorrência no setor. Larry Page, CEO do Google, afirmou que há um "compromisso total da Motorola com o Android, uma das muitas razões pela qual se deu um ajuste natural entre as duas empresas". O diretor-executivos da gigante de internet afirmou ainda que o trabalho em conjunto das duas companhias só irá beneficiar consumidores, parceiros e desenvolvedores: “Estou ansioso para receber os funcionários da Motorola em nossa família de Googlers” disse. 

A Motorola tem em sua história mais de 80 anos no setor de tecnologia e seus marcos da indústria de telefones incluem o lançamento de o primeiro telefone portátil do mundo há quase 30 anos e hit o StarTAC. Em 2008, a companhia adotou o Android como sistema operacional único em todos os seus dispositivos o que contribuiu para aproximação com a Google. A aquisição é mais uma iniciativa da companhia americana de internet para competir com a Apple, fabricante do iPhone e desenvolvedora do seu próprio sistema operacional móvel iOS. Os aparelhos 'Motorola + Google' seriam os únicos com capacidade de competir em configuração com uma integração total de software (Android) e hardware (Motorola) em uma plataforma própria. 

Tudo pelas patentes?

Sim. Foi essa a resposta quase unânime à aquisição da Motorola Mobility pelo Google. As patentes da Motorola permitirão que o gigante das buscas construa uma fortaleza de propriedade intelectual em torno de seu sistema operacional, o Android. Com a compra da fabricante de smartphones, a empresa de buscas levou como bônus as 17 mil patentes em posse da empresa adquirida. Mas o Google está comprando algo mais: uma opção barata quanto ao futuro da computação móvel. 

O grupo está disposto a pagar pela propriedade intelectual da Motorola para proteger a lucratividade dos fabricantes de celulares com Android. No trimestre passado, 47 milhões de celulares equipados com o sistema foram vendidos, segundo o Gartner. Caso os fabricantes tivessem de pagar royalties --mesmo de apenas US$ 5 por aparelho, o que a HTC já paga à Microsoft-- aos diversos detentores de patentes, isso equivaleria a menos US$ 1 bilhão no lucro anual do mercado de aparelhos Android.

Se estimarmos um múltiplo de companhia em crescimento sobre esse lucros (digamos, 25), os montantes que estão em jogo ficam claros. Uma carteira mais forte de patentes permitiria que o Google reduzisse o ônus desses royalties por meio de acordos de licenciamento cruzado. Isso protegeria o lucro da empresa no mercado móvel, realizado por meio de sua divisão de publicidade para celulares, que, segundo a companhia, tem receita superior a US$ 1 bilhão.

É importante lembrar que a proteção dos direitos diminui a exposição para disputas judiciais pela autoria de tecnologias em smartphones. Em uma batalha de patentes com a Nokia, por exemplo, a Apple teve de pagar US$ 600 milhões à companhia finlandesa, além de oferecer royalties sobre a venda de iPhones.

E mais, lembram-se do que falamos aqui, o Google saiu enfraquecido na disputa por proteção intelectual depois de perder a oferta de um pacote de 6.000 patentes da Nortel Networks, de US$ 4,5 bilhões, para as concorrentes Apple e Microsoft. O presidente do Google, Larry Page, afirmou nesta segunda-feira que o fortalecimento do portfólio de patentes ajudará proteger melhor o Android de "práticas anticompetitivas da Apple, Microsoft e outras empresas".

Quem mais pode ganhar com esse negócio?

Microsoft, Nokia, Research in Motion --fabricante do BlackBerry-- e o setor de TV a cabo estão emergindo como possíveis ganhadores depois que o Google anunciou, nesta segunda-feira, a aquisição da Motorola Mobility por US$ 12,5 bilhões de dólares. Se outros fabricantes de celulares decidirem abandonar o sistema operacional Google Android, Nokia e RIM se beneficiariam.

A Microsoft pode se beneficiar se os fabricantes começarem a procurar por alternativas de software ao Android, disse Shaun Collins, analista da CCS Insight, apesar de clientes mostrarem poucos sinais de interesse nas tentativas da gigante de softwares de entrar no mercado de telefonia móvel.

Já as companhias de TV paga poderiam ter muito a ganhar caso o Google, que controlará a fabricação de decodificadores Motorola, modere suas iniciativas que perturbam o setor --como o YouTube. O Google há muito é visto como fonte de possível perturbação para a TV paga, primeiro com o YouTube e depois com o Google TV, ainda que nenhum dos dois tenha exercido o impacto negativo previsto sobre o setor.Com a aquisição, o Google vai se tornar um dos maiores fornecedores do setor de TV a cabo. Mesmo que os decodificadores físicos desapareçam, o software de cifragem e acesso condicional da Motorola continuará importante para o setor.

Enquanto isso, é improvável que a transação tenha impacto sobre os esforços da Apple para conquistar corações e mentes entre os usuários de celulares inteligentes, disseram analistas. Agora que o Google se tornará seu concorrente direto, a empresa poderá abandonar certos produtos do Google que utiliza em seus aparelhos.

Notícia retirada da Folha de São Paulo

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